16 de agosto de 2010

Minha Explicação

Todo mundo pergunta do meu pai e alguns ficam com aquela carinha de dó quando eu explico o completo descaso.
Sim, meus pais são separados.
Sim, eu era criança, se é que hoje em dia se considera 11 anos como criança.
Não, ele não fala comigo ou com os meus irmãos.
Não, eu não o convidei para o meu casamento e não pretendo contar que estou grávida, também.
Não é uma história de como eu me tornei um marginal porque não tive pai, acho que é exatamente o inverso, nos tornamos pessoas melhores sem ele.
Ele não pagou pensão, passamos fome (segundo minha mãe e minha irmã, porque eu não lembro) e frio (durante um bom tempo eu só tinha uma blusa de frio para ir ao colégio e usava calças de moletom levantadas até os joelhos para disfarçar que estavam curtas).
Eu e meu irmão fizemos amizade com o cobrador do ônibus, como ele era pequeno passava por baixo na catraca, e podíamos juntar 50 centavos todo dia para comprar doces e biscoitos recheados. O salário da mamãe não podia bancar estes luxos!
Minha irmã foi à pé para primeira entrevista de emprego. E eu só conquistei meu primeiro salário muito depois dela, porque não permitiam mais que menores de 16 anos trabalhassem.
Eu forçava meu irmão a ir comigo visitar o papai no trabalho, de sábado, e quando ele nos retribuiria a visita? NUNCA!
Um dia ele soube que eu estava operada, internada num hospital... daí, ele foi lá perguntou qualquer coisa, me ajudou a ir no banheiro e foi embora.
O meu irmão engravidou (eu tou grávida e o Edu está grávido comigo, ué!), daí, tinha casa para montar, milhares de coisas para o pequeno que chegaria. Ele apareceu ajudou, deu apoio moral e até visitou o netinho. Meses depois meu irmão ficou desempregado e pediu um "bico" para ele, adivinha? O cara sumiu do mapa, virou pó ou purpurina, se você preferir.
Ele nunca mais apareceu, daí, ele entrou na lista de parentes distantes e não foi incluído na minha lista de convidados para o casamento, entendeu?
O fato é que se ele tivesse sempre lá, debaixo do mesmo teto, não seríamos o que somos hoje. Não seríamos guerreiros (cada um a sua maneira) e talvez nem conheceríamos nossos respectivos cônjuges.
Talvez a minha irmã ainda não saberia assar batatas, meu irmão ainda ficaria em cima da laje empinando pipas e eu continuaria trancada no meu quarto, com meus livros e sem amigos.
Definitivamente, somos muito melhores, sendo apenas Martinuzzo!!!

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